quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Começando...

Entre parênteses vou me intrometendo. Como uma pequena observação, que muita gente pula quando encontra em um texto.
"Ahh, pra que ler o que está entre parênteses?"
Eu também ignoro alguns, mas depois não tem remédio, tenho que voltar e procurar algo que ficou faltando! Minha intenção com isso aqui é mais ou menos isso...

No meu plano original, o blog devia começar no Ano Novo, pra abrir com um poema lindo do Drummond, mas o layout não estava pronto e não queria começar com ele "pelado". Enfim ficou pronto, e muito bonito. Me valeu os R$50,00 investidos e muito bem pagos em 2 vezes sem juros no cartão para o Diogo ;) Mais informações sobre como obter seu layout, podem me contatar que aviso o artista (comissão de 10% hein!)_ espero que nao ignore esse parênteses!

Estamos no dia 8, quase 9 de janeiro se não me apressar. O ano novo já passou, mas o poema continua lindo, vou posta-lo!

PASSAGEM DE ANO

O último dia do ano

Não é o último dia do tempo.

Outros dias virão

E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.

Beijarás bocas, rasgarás papéis, farás viagens e tantas celebrações

de aniversário, formatura, promoção,glória, doce morte com sinfonia e coral,

que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,

os irreparáveis uivos

do lobo, na solidão.

O último dia do tempo

não é o último dia de tudo.

Fica sempre uma franja de vida

onde se sentam dois homens.

Um homem e seu contrário,

uma mulher e seu pé,

um corpo e sua memória

um olho e seu brilho,

uma voz e seu eco,

e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.

Mereceste viver mais um ano.

Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.

Teu pai morreu, teu avô também.

Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,

mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,

e de copo na mão

esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.

O recurso da dança e do grito,

o recurso da bola colorida, o recurso de Kant e da poesia,

todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.

O corpo gasto renova-se em espuma.

Todos os sentidos alerta funcionam.

A boca está comendo vida.

A boca está entupida de vida.

a vida escorre da boca,

lambuza as mãos, a calçada.

A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Não é mais ano novo, mas já é dia 9!

Um comentário:

Poeta Eterno disse...

Puxa...
Ficou lindo o layout...
Gostei muito.. Acho que vou contactar esse tal Diogo Viana..
Ei, Diogo Viana sou eu!!
huahuauhhuahuahuauhhuhua
Olha... o que o poeta escreve é alem dos "entre parenteses" (mesmo ele estando entre aspas), eu diria que o "entre parenteses" do poeta, na verdade é entre as linhas, o que o poeta escreve sempre deixa algo a ser completado...
Todo poema, deveria então, estar ente parenteses... Pq o sentido é puramente interpretativo... Quem lê um poema de amor, não sabe do odio que ele precisa pra ser vivo...
Andressa... muita sorte com o novo blog... esta ganhando um link permanente no meu, logo que eu organize a lista.
Drummond é bom em todas as ocasiões... Florbela tambem... Passe mais por ela.. tenho certeza que vai gostar dos sonetos...
Bj

Edição de imagens: Diogo Viana
poetaeterno.blogspot.com